Carmen de Patagones - Sábado - 13/01/2007 :
“Saímos em 4 de Janeiro ,deste ano, de Buenos Aires e pretendemos concluir a travessia da Patagônia ( 3200 km) dentro de uns 40 dias. Já passamos por Cañuelas, Roque Perez, Saladillo, Tapalque, Azul, Olavarria , Coronel Pringles ,Cabildo , Bahia Blanca, Mayor Buratovich, Stroeder e estamos agora em Carmem de Patagones a quase 1000 km de Buenos Aires e nosso próximo destino é Puerto Madryn onde visitaremos a famosa Península Valdes com focas, leões marinhos e pingüins a mais ou menos uns 7 dias de pedaladas (rezem por nós...). Completamos desta forma quase um terço do percurso , com uma média de 80 km por dia .Já dormimos numa estação de trem deserta , salvamos um morcego de afogamento , dividimos pão e água com uns animais domésticos aparentemente abandonados numa cidade "fantasma" chamada Krabbe, enfrentamos ventos de uns 40 km por hora , mas também vimos paisagens lindíssimas , animais (gatos selvagens , falcões , lebres , flamingos rosados) livres pelos pastos a perder de vista e conhecemos seres humanos maravilhosos : em Roque Perez uma família abordou-nos e preparou um delicioso churrasco argentino ; em Cabildo por não haver mais vaga no único hotel, um casal , Cristina e Daniel, recolheu-nos em sua casa por dois dias como se fôssemos da família e; em Mayor Buratovich , uma senhora , Maria del Carmen, nos ofereceu a sua casa - disse que nos viu pedalando na Ruta 3 próximo à Bahia Blanca.” |
Diário - trechos - Viagem de Buenos Aires à Ushuaia |
VEJA TAMBÉM OS E-MAIS TROCADOS DURANTE A VIAGEM |
Las Grutas - Segunda - 22/01/2007 :
“Oi gente, tudo bem ? Hoje estamos em Las Grutas , um balneário muito badalado do Sul da Argentina, pena que estamos apenas de passagem e não dá para nadar, o lugar é lindo, a uns 1200 km ( um terço da viagem ) de Buenos Aires. Esta correndo tudo bem , apesar do vento que atrapalha e cansa, mas estamos conseguindo fazer uma média de 80 km por dia. Até aqui temos vivido experiências lindas e marcantes. Ontem foi o dia mais difícil da viagem pois tivemos que fazer 180 km em dois dias uma vez que não havia nada no caminho, nem casas, nem árvores, entre as cidades de Carmen de Patagônia e Las Grutas. Dormimos numa fazenda de ovelhas aparentemente abandonada ,pois o pó tomava conta de tudo, à beira da estrada e armamos a barraca num galpão . Para piorar a água tinha mau cheiro e não atrevemos a usá-la, nem para tomar banho. Era a única casa num raio de 50 km , o resto, um deserto só. Apesar da desolação, de um modo geral , o lugar era lindo , parecendo faroeste, e, para nossa surpresa, apareceu um gato mestiçado de selvagem, muito bonzinho e carinhoso , demos a ele o nome de Lúcio ,mas que miou a noite toda. Na hora de partirmos ficamos com muita pena de deixá-lo sozinho ali . Deixamos um pouco de água e pão picado com caldo de sardinha em lata para ele. Lembrei do filme O Náufrago quando ele perdeu a bola Wilson, claro guardadas as devidas proporções. Tínhamos 4 litros de água fresca e 2 de um rio que usaríamos apenas em último caso para fazer 100 km. Faltando 70 km, percebemos a gravidade e passamos a tomar uns goles apenas de 7 em 7 km para poder chegar . Dois carros parados nos deram um pouco de água morna e para nossa sorte começou a chover e o vento diminuiu. Isso nos reanimou e chegamos ás nove da noite em Las Grutas com a garganta de quem atravessou um deserto, tomamos 3 litros de água gelada de uma vez. O lugar estava totalmente lotado , nem em campings havia vagas, então armamos a barraca num posto de polícia rodoviária. Mas fique sossegada pois daqui para frente vai ser mais tranqüilo , segundo informações com as pessoas daqui. Quanto ao site, o hospedeiro esta com problemas técnicos, mas na semana que vem todas as fotos ja estarão publicadas até o trecho marcado em vermelho indicando o caminho que já percorremos. Fiquem com Deus e dê notícias a quem perguntar por nós. A Wilma manda um abraço. Beijos dos cicloviajantes. Aqui vai algumas fotos . Mandaremos notícias breve. “ |
Puerto Madryn - Segunda - 12/02/2007 :
“ Chegamos bem em Puerto Madryn,com o vento Norte à favor, uma linda cidade à beira-mar, que vista do alto,com um mar intenso ao fundo, onde este e céu se unem num degradê lindo de azuis. Faltando 30 km para chegarmos, o Birair sofreu uma queda feia e segundo o médico, precisava de uns dias para se recuperar. Aproveitamos a ocasião e ficamos por 4 dias, fomos conhecer a famosa Península Valdés, com uma van de turismo, porque o aluguel de carros é caro e a quilometragem é limitada. Mas foi ótimo, nossa guia Maria e o motorista Marcos eram bem esclarecidos e recebemos informações importantes, percorremos quase 400 km das 8 da manhã até as 5 da tarde, vimos pingüins tão pertos que quase se podia tocá-los, elefantes marinhos de quase 3 toneladas,que acreditamos ser um petisco saboroso e bem temperado para as orcas,já que elas vêm buscá-los na praia, e leões-marinhos jovens brincando e os adultos brigando e urrando,talvez por algumas de suas 164 fêmeas (qualquer semelhança com humanos...) Vimos a famosa Caleta Valdés,que parece um recife em forma de "língua" como dizem aqui,vimos guanacos,que se parecem com lhamas,e alguns "avestruzes" perdidos. Foi um lindo passeio. Sentimo-nos realmente turistas por um dia. Fizemos amizades e trocamos e-mails. Novamente aqui encontramos a bondade e a hospitalidade inerentes ao povo argentino, ficamos na casa de D.Tereza,que nos acolheu tão bem, ela e toda sua família, Clara, Estefania, uma linda, prestativa e doce menina-moça, Evelyn, filha de Clara e todos os outros, se juntaram e nos fizeram um belo churrasco e uma ceia deliciosa. Passamos em lugares que não existem mais, como Malaspina,e por "cidades" que se resumiam a um Posto de gasolina,uma lanchonete e algumas casinhas, como Uzcudum e Garayalde e com o Birair ainda se recuperando... Próximos uns 25 km de Pampa de Salamanca, outra “paraje” perdida no meio do nada,conhecemos o famoso e fortíssimo vento que vem das Cordilheiras,frio e intenso,pedalávamos à 8 km por hora e com um vento de mais ou menos 80 km por hora ,reconhecemos que não havia a mínima possibilidade de continuarmos e um ônibus com trabalhadores de um gasoduto, que também estavam impedidos de trabalhar por causa do vento, nos deu carona até Comodoro Rivadavia a uns 50 km de onde estávamos. Ajudaram-nos com as bicicletas,com as mochilas e dividiram conosco seus lanches, refrigerantes, suas águas e sua generosidade. Foram prestativos e discretos. Nossos próximos destinos são: Puerto San Julián...Comandante Luis Piedrabuena e Rio Gallegos.Agora falta pouco...continuem com a gente e rezem por nós (um pouco mais) Abraços de seus amigos cicloviajantes. Birair e Wilma. “ |
Próximo á Uzcudum- Quarta - 31/01/2007 :
“A próxima cidade , Santo Antonio do Oeste , ficava a 180 km de rudes e espinhudos arbustos a se perder num horizonte verde-escuro e plano onde parecia não ter vida não fossem as lebres selvagens muitas delas infelizmente atropeladas pelos carros em exagerada velocidade. Saímos de Las Grutas pela manhã sob intenso vento sul. Tínhamos que seguir em frente depois de 2 dias de descanso num camping lotado. Após 8 km, quando a estrada ficou de frente para o vento, não foi mais possível prosseguir e tivemos que ficar perigosamente abrigados numa ponte por 2 horas dividindo espaço com aranhas, felizmente bem à vista nas paredes, um teimoso ratinho branco e enormes e lindas vespas avermelhadas. Mais à tarde enfrentamos quase 18 km de subida até atingirmos o planalto e com vento mais de lado chegamos às 20 horas num posto de gasolina (estacion de servicios) . Pudemos tranquilamente armar a barraca, mas um caminhão pipa uma hora depois, nos fez perceber o engano que cometemos: estávamos em cima da caixa d’água e lá se foi a oportunidade de dormirmos mais cedo. Como consolo, o entardecer foi inesquecível. Na tarde seguinte conhecemos a tranqüila, pacata e silenciosa Sierra Grande,que pena que não podemos ficar por aqui mesmo por uns dias... Mais algumas subidas, almoçamos em Arroyo Verde (apenas um restaurante perdido no meio do nada) e à noite chegamos na linda Puerto Madryn, parecendo um oásis à beira do mar lindo e verde claro . Este dia batemos nosso recorde , com vento norte, a favor, pedalamos 160 km, mas a uns 25 km antes de chegar na cidade, levei uma queda feia bem no meio da pista provavelmente pela mudança brusca do vento combinado com exagerado peso no guidão. Por sorte não vinha nenhum carro e num ímpeto , com a perna sangrando, levantei arrastando a bike toda torta, tranqüilizando a Wilma que parecia não acreditar, para o acostamento. Fizemos um rápido curativo , consertamos a bike , tirei todo peso excessivo do guidão e, assustados, seguimos em frente. Depois de dois dias levemente sangrando a canela esquerda, apreensivos pela possibilidade de desistência da viagem, a veia secundária atingida por dentes da coroa estancou e, para nossa alegria, o médico garantiu que se repousasse por mais 4 dias, poderíamos voltar à ruta. Aproveitamos para fazer todo o passeio , uns 400 km de van, pela Península Valdes onde visitamos Caleta Valdes , verdadeiro santuário ecológico de pingüins , Punta Delgada com seus enormes e preguiçosos lobos marinhos de até 3 toneladas e Punta Norte , berço de centenas de agitados e briguentos leões marinhos, preocupados por ter de cuidar de suas quase 140 fêmeas, segundo a guia turística. As orcas , que ferozmente arrastam os pesados lobos marinhos para o mar, só no mês seguinte apareceriam. As baleias brancas também não estavam na sua época, infelizmente. Dos 6 dias , por falta de quartos, tivemos que ficar 2 na casa da mãe da Clara, gerente da hosteria. Família simples mas muito hospitaleira e gentil, preparam-nos o melhor quarto da casa . Na véspera de partir tivemos outro churrasco típico até tarde da noite embora precisássemos levantar muito cedo para driblar o vento , claro que não ousamos reclamar ... Pela manhã, devidamente equipado com caneleiras , despedimos da Sra. Tereza que ficou para trás com os olhos marejados. Foi muito lindo pessoas estranhas , estrangeiras , tratar-nos como se fôssemos queridos familiares. À noite, 80 km adiante, depois de uma bela descida de 6 km, já dormíamos em Trelew. Nova interminável e penosa subida para atingirmos o planalto, a primeira queda da Wilma devido à falha na troca de marcha bem na frente do caminhão que vinha subindo lentamente, para nossa sorte. Passado o susto, esgotados, às cinco da tarde, resolvemos acampar num canteiro de obras aparentemente desabitado. Enquanto a Wilma preparava a barraca, resolvi averiguar o local tranqüilo mas muito ermo e sinistro. Levei um susto quando vi no meio de uns arbustos o que restou de um enorme guanaco ( meio parecido com a lhama, mas um pouco maior ) , cabeça de um lado, patas espalhadas pelo outro, será que foi ataque dos temidos pumas que lemos nas revistas de viagem (embora sua região fosse mais distante dali), ou talvez foram ilegalmente abatidos pelos ausentes e famintos trabalhadores ? De qualquer forma, achei melhor mostrar para a Wilma somente pela manhã e armamos a barraca atrás de um trailer que serviu para abrigar somente as bicicletas pois estava parcialmente destruído. Os pumas estavam no rol dos nossos medos juntamente com o vento forte e gelado que vem do Pacífico passando pelos picos nevados da Cordilheira dos Andes, as distâncias de até 280 km de desertos entre as cidades ( Fitz Roy e Puerto San Julian) , a falta de acostamento depois de Bahia Branca ( 2400 km até Ushuaia) ,o pó das estradas de rípio na Tierra Del Fuego, a falta de água devido às enormes extensões de regiões inóspitas e desérticas e um medo até engraçado : mosquitos gigantes. Realmente perto de Bahia Blanca fomos atacados por uma espécie de mosquitos bem grandes , mas que não resistiram ao eficiente repelente argentino e à medida que descíamos em direção à Terra do Fogo, o frio aumentava e a umidade diminuía e como conseqüência os insetos iam rareando. Acidentes , quebras mecânicas e assaltos nem cogitávamos pois desta forma seria melhor nem sairmos de casa.” |
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